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...bem vindo a porta que te levará a viajar comigo; que te fará meu companheiro(a) em cada nova aventura... e história nas antigas; venha, vamos juntos conhecer o mundo... Andarilho.

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Porto Velho , Rondônia, Brazil
...Motociclista aventureiro, apaixonado pela vida e pela liberdade... ...Andarilho autodidata em moto turismo; é otimista, prega e tem por objetivo, viver a vida intensamente com responsabilidade; preza pela direção defensiva e responsabilidade no trânsito, é disciplinado e adora desafios. Possui vasta experiência em viagens de curto, médio e longo alcance; e tem prazer em planejar, organizar e executar expedições, viagens e passeios; sempre muito bem acompanhado por sua fiel companheira "Sarita", sua Nx 350 Sahara 1999; manja da mecânica básica de motos e fala "portunhol" 🤣

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Expedição Rondon 2016. Dia 14 de maio, 2º dia/3ª etapa.

Hoje somente ficamos aqui na vila acompanhando os festejos e celebrações; muita gente trabalhando... alguns cortando lenha, outros limpando os bois, porcos, carneiros... que seriam servidos  no almoço e jantar. Acompanhamos mais uma vez as visitas que a “Coroa” do Divino vai fazendo; hoje foi a vez do barco dos romeiros, que esta ancorado do lado do pequeno barco do Divino; aquele coberto de palha.
Depois das celebrações, ouvimos um pouco da história dessa festa, contada pelos descendentes dos primeiros festeiros do Guaporé, embaixo da mangueira centenária, talvez plantada por um deles; nos contaram como tudo começou, e como consegue se manter viva assim por 122 anos essa manifestação de fé e alegria; essa festa já é considerada o maior evento tradicional religioso do Estado de Rondônia. Na parte da tarde os trabalhos continuavam, pois hoje foi o dia mais esperado; muita gente chegando ainda; pois como hoje foi o dia de erguer o “Mastro”, muita gente veio para acompanhar e pagar promessa.
Nossas barracas estavam do lado da cozinha de um dos galpões de refeições; onde as irmandades de Seringueiras, São Miguel... e outras mais trabalhavam arduamente para que tudo saísse da melhor maneira possível. Com essa galera aí logo nos enturmamos, pois eles são da irmandade por opção; em sua maioria não são descendentes de quilombolas, mas participam por causa da fé, por conta da religião. Gostaria de agradecer a todas as irmandades; mas em especial as Irmandades de Seringueiras e São Miguel pela atenção e carinho conosco da Expedição Rondon.
A noite chegou; depois do jantar, a “Coroa do Divino” saiu em procissão com centenas de devotos, todos com velas acesas nas mãos, e foi até a casa do “Imperador” e depois à casa da “Imperatriz”, buscá-los; para que todos juntos fossem buscar o “Mastro”, distante da vila cerca de 1 km na estrada de terra em meio à mata; esse local só é revelado na hora de buscar o Mastro. O Mastro é uma madeira muito reta de 24 metros, pintada em gomos intercalados em vermelho, azul e branco; é concorrido tocar e carregar o Mastro; mas só pode ser tocado e carregado por homens; as mulheres só acompanham. Durante o percurso eles fazem paradas, sobem o Mastro todos com os braços estendidos, baixam para a altura dos ombros, (mas sempre carregado apenas com as mãos) e seguem. Chegando de frente a igreja, onde o buraco já estava pronto, colocaram o pé do Mastro no buraco, e sendo segurado pelos braços dos devotos, é colocada em sua ponta a Bandeira do Divino; em seguida auxiliado por várias “tesouras” de madeira e a força dos devotos, o Mastro é levantado. É um momento de muita comoção e emoção entre todos; em meio a hinos e rezas cantadas, muitos fogos de artifício são ouvidos; a Bandeira no topo do Mastro simboliza a vitória desse povo, frente às dificuldades, para manterem viva essa tradição, essa festa que há 122 anos existe. Após fixarem o Mastro, os peregrinos acendem suas velas e colocam ali no pé do Mastro, pagando suas promessas e assim agradecendo ao Divino Espírito Santo pela oportunidade de estar ali, pela saúde, pela família...
Existe a crença de que a Bandeira do Divino fixada no topo do Mastro indica a localidade onde acontecerá a próxima Festa do Divino. À noite quando o Mastro foi erguido, ela apontava para Pedras Negras, segundo os devotos; mas ao longo da noite foi se direcionando para Surpresa. Confirmando assim o local da próxima festa. (Na manhã de domingo realmente a Bandeira do Divino apontava para a direção da localidade ribeirinha de Surpresa; que esta entre Costa Marques e Guajará Mirim).
Depois dos agradecimentos se deu por encerrado a cerimônia do Mastro; a multidão se dispersou pela vila, lotando as lanchonetes e bares; para logo depois irem para o forró; forró esse que iria amanhecer o dia.

Agora escreverei aqui minhas impressões pessoais a respeito da Festa do Divino e algumas informações extras.
 A Festa do Divino Espírito Santo do Guaporé realmente é um evento grandioso, com muitos valores e tradições muito antigas, inclusive vindas da Europa e África. O que mais me surpreendeu foi a fé que as pessoas que participam, que trabalham, que ajudam, têm. O povo que organiza, que realmente fazem acontecer e também os que só vão para participar, em sua maioria são muito simples. Descendentes de quilombolas e indígenas, bem como também bolivianos; já que a festa é binacional. Várias comunidades bolivianas estavam presentes na festa. Pois fazem parte da irmandade e foram visitadas pelo barco do Divino, bem como eventualmente poderão também serem sede da festa, como creio que já tenham sido.
As pessoas, principalmente os mais velhos, são bastante desconfiadas, e não dão muita abertura a diálogo logo de cara não. Se você perguntar respondem e só.  Conosco ali não foi diferente, creio que pior um pouco, pois nos viram chegando em motos diferentes, todos equipados... no primeiro dia foi tudo bem restrito, sem muita conversa; do segundo dia em diante já começaram a se abrir mais, fazendo com que fizéssemos grandes amizades ali. Já visitei a cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade no Mato Grosso, bem como Rolim de Moura do Guaporé aqui em Rondônia; todos remanescentes de quilombolas... aqui a história se repete, pois a grande maioria também o são; realmente eles são desconfiados. Herança das perseguições dos capitães do mato, fazendeiros, coronéis, militares... ainda que inconscientemente, até que se prove o contrário, eles são desconfiados. Os tempos mudaram, mas no DNA desse povo sofrido, a desconfiança ainda é a melhor defesa; mesmo não sendo mais necessária.

Para provar o que escrevo aqui vou contar o que aconteceu com o meu companheiro de viagem, Fabiano.

“Na sexta a noite teve a missa campal, de frente a porta da igreja, que estava aberta. Muitos foram os atrativos dessa missa, onde todas as orações são cantadas, recheada com vários ritos que só vi aqui. Além de mim e do Fabiano da Expedição Rondon; estavam lá mais 04 equipes fazendo a cobertura do evento. O SBT de Rolim de Moura (o produtor Max e a repórter Gislaine), o Site afotoRM (repórter fotográfico Carlos), TV Jornet de Porto Velho e o Governo do Estado, através da Sejucel . Muito bem; então no sábado de manhã depois da missa, naqueles ajuntamentos próximos a igreja, o Fabiano escutou duas senhoras de idade conversando:
-Uma disse assim: Em você viu ontem uma moça morena na missa?
-A outra: Vi muitas, aqui todo mundo é morena.
-Sim, mas era uma que ficava se enfiando em tudo que é canto, até na frente do padre.
-Há vi sim, verdade, que menina enxerida!...     ...blá blá blá...          Vendo isso o Fabiano querendo explicar para as senhoras disse:
-Mas aquela moça é repórter! (elas estavam se referindo a Gislaine do SBT).
-Uma delas: É mesmo?  nossa...
-A outra: É, mas é enxerida mesmo.    E se virando para o Fabiano disse: -Igual você que tá aqui no meio da gente, seu enxerido!!!
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... rachei de rir quando ele me contou; dou risada até agora quando lembro; ...imagino ele saindo de fininho de perto das senhoras.”

Continuando... esse povo desconfiado, é um pouco difícil de ser conquistado; mas quando isso acontece, realmente é de verdade. Conquistamos a amizade deles e fomos convidados a voltar outras vezes. Falando em voltar me lembrei; fiquei surpreso com os poucos visitantes de fora, turistas ou pessoas que não estão ligadas a festa; realmente são poucos, quase ninguém de fora. Será por quê? Uma festa com 122 anos e poucos visitantes. Fiquei intrigado. Talvez não seja do interesse deles que essa festa vire uma atração turística e sim que continue sendo apenas uma manifestação de fé. Essa festa que sempre é realizada em localidades simples sem muita estrutura, às vezes na beira do Rio Guaporé, onde não se chega de carro, tendo que navegar talvez dias para se chegar até lá; dormindo em redes... talvez essa situação nunca tenha atraído a grande massa de pessoas comuns, que em sua maioria gostam de conforto, de lugares que tenham uma mínima estrutura, como por exemplo: um bom hotel... Realmente tem que ser aventureiro para participar dessa festa; conforto não existe lá, mas vale muito a pena. Dormimos em barraca, encarávamos fila para tomar um banho rápido, fila para comer...; mas ano que vem quero ir de novo, kkkkkkkkkkkkkkkkkkk  ...e o melhor, não gastamos quase nada; nada de hotel, nada de restaurante (já que as 03 refeições do dia eram gratuitas), somente gastamos com alguma bebida ou guloseima; realmente ficou barato ir a essa festa.

Os pontos altos da festa são:
-A chegada do barco do Divino, acompanhado por todos os outros barcos. (Já que os deslocamentos são todos por água; dizem ser a única festa do Divino fluvial do mundo).
-E o transporte e fixação do Mastro.


Conclusão: realmente vale muito a pena conhecer a Festa do Divino Espírito Santo do Guaporé. Recomendo a todos sem medo de errar. 

Total do dia: 0 km.
Porto Murtinho - RO, (Festa do Divino Espírito Santo do Guaporé).


Nosso hotel

Check-up na Sarita

Café da manhã sendo preparado; o Fabiano ajudou nessa preparação

Café da manhã



Rodnei  Paes, Superintendente da Sejucel; apoiando o evento. Segundo Rodnei Paes, o atual governo esta dando total apoio ao evento, já que se trata de um patrimônio cultural e histórico de nosso estado.

Da esquerda para a direita: Lebrinha (Prefeita de S. Francisco), Fabiano, Valdir Raupp (Senador), D. Raimunda, Marinha Raupp (Dep. Federal), eu, Assessora do Rodnei e Rodnei Paes (Sup. Sejucel) 


Rio São Miguel

Mulheres lavando a louça no rio








A maioria das pessoas estão alojadas nos barcos






A mangueira centenária; plantada talvez por um dos pioneiros dessa região






Esse sino foi trazido da localidade de Limoeiro, e data de 1948



Miguel, nosso anfitrião aqui em Porto Murtinho; estamos acampados no quintal da casa dele



Muita gente trabalhando

Artista

Ao fundo nosso acampamento


Visita da Bandeira e Coroa do Divino aos barcos




Praça da vila




Entrevistando a neta do pioneiro da Festa do Divino


A 122 anos o avô dela trouxe essa tradição e a adaptou a região das águas; o Vale do Guaporé





Aqui o pilão ainda não se aposentou não

Fogão a lenha

Tarde quente e um bom banho de rio





Natureza exuberante

Região que atrai muitos pescadores

Posto de Saúde da vila




Escola indígena

Porto Murtinho; aqui a população é bem mista; índios, caboclos amazônicos, negros, pardos... inclusive descendentes de bolivianos e peruanos.

Farinheira

Jantar

Procissão para transporte e fixação do Mastro



O Mastro sendo carregado pelos fiéis




Apenas os homens podem transportar o Mastro

Eu e o Fabiano registrando tudo

Expedição Rondon buscando e valorizando nossa cultura

Mastro, uma madeira muito reta de 24 metros de comprimento e muito pesada

Bandeira do Divino na ponta do Mastro

Tesouras para erguer o pesado Mastro






Enfim depois de muito trabalho, o Mastro esta de pé


Momento de muita emoção entre todos

Momento de alegria

Momento de comemorar mais uma vitória

Com certeza realmente merece muita comemoração; uma festa que é realizada a 122 anos. Fico imaginando a primeira festa em 1894; como foi? Quem eram as pessoas que participaram? É fascinante a história dessa festa. Eu e o Fabiano, somos privilegiados em termos a oportunidade de participar dessa festa tão grandiosa e rica, no que se refere a cultura, história, tradição e fé.



Gerson Paulino e Andarilho

Gislaine (Repórter SBT Rolim de Moura), Gerson Paulino (Vereador Pres. Câmara de S. Francisco e também motociclista), e Fabiano (Moto Aventureiro e Padeiro nas horas vagas, kkkkkkkk...)

Pagando promessas no pé do Mastro


Mastro na manhã de domingo

Um comentário:

  1. Sem dúvida uma experiência que jamais esquecerei, essa "festa" em que participamos por assim dizer foi onde fizemos parte de um pequeno capítulo da história de Rondônia... Ainda bem que somos bicão (temos histórias para contar kkkkkkkkk), essa manifestação de fé tem traços herdados do catolicismo português com uma mistura da perseguição sofrida pelos escravos no Brasil... muito lindo... E são mesmo desconfiados por natureza kkkkkkk. Obrigado Andarilho da Amazônia Brasil (facebook) por me proporcionar essa visita histórica em Porto Murtinho e demais localidades que visitamos, convido a todos que tiverem oportunidades de um dia visitar a Festa do Divino do Guaporé não irão se arrempeder!

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