Hoje iniciamos a 3ª Etapa; me desloquei de
Rolim de Moura para São Miguel do Guaporé, passando por Santana do Guaporé,
distrito de São Miguel. Já em São Miguel me juntei ao Fabiano Silva de
Ji-Paraná que será meu companheiro nessa etapa. Depois de fazer algumas fotos e
nos organizar seguimos para Bom Sucesso, Distrito de Seringueiras; vila
pequena, mas possui combustível e mercado. Ali identifiquei a torre da Rolim
Net, provedor de internet e patrocinador da Expedição Rondon; Segundo um
morador a cobertura da Rolim Net na região é muito boa, e permitiu a toda a
população dessa região, inclusive da zona rural, se conectar com o mundo
através da internet; antes impossível. Conhecemos também o jovem Jefferson
Pereira, proprietário de uma oficina de motos, a Motos Vieira; gente boa demais.
Depois de algumas fotos, seguimos para Novo Planalto, passando pelo Rio
Bananeiras; lugar de extrema beleza natural. Fiquei surpreso com a grande
quantidade de plantações de Urucum nessa região. Chegamos a Novo Planalto na hora do almoço,
depois de algumas fotos, fizemos um almoço improvisado, já que na vila não tem
restaurante. Durante nosso almoço fomos abordados pela pequena Rafaely de 09
anos, querendo fazer algumas fotos das motos... enquanto a gente almoçava na
sombra de uma árvore, ela tirava as fotos. O Fabiano começou a conversar com
ela, e o papo rolou solto. Segundo ela é a primeira vez que aparecem motos
grandes na vila. Depois de terminar o almoço fomos até a oficina de motos
Planalto Motos, que é do Sr. Odair pai da Rafaely, conversar um pouco. Então
fomos intimados pela Rafaely a visitar sua escola. Nos deslocamos para a escola
na rua detrás de onde estávamos. Chegando a Escola Princesa Isabel, fomos
recebidos pelo Silézio e o Célio; que nos convidaram a entrar para conhecer a
escola. Entramos e conversamos um pouco no pátio; percebi que o Fabiano tinha
sumido ali de junto de nós; quando olho para dentro de uma sala, lá estava o
companheiro dando uma “palestra” para a criançada a convite da Professora
Marilza Marques, que também acompanhava atenta e curiosa às informações
passadas pelo Fabiano. Me juntei a eles; na verdade as crianças queriam saber o
que a gente fazia, por que estávamos vestidos daquela maneira, se éramos pagos
pelo governo... foi um bate papo interessante... perguntas e mais perguntas.
Depois foram todos lá fora ver as motos e fazer algumas fotos. Ficaram
maravilhados com as motos; principalmente quando o Fabiano falou a idade das
motos, Sahara 16 anos e Teneré 25 anos. Depois de tomar um café, feito
especialmente para nós pelas meninas da cozinha; conversamos um bocado com as
professoras, merendeiras, zeladoras, secretárias... foi muito bom. Obrigado a todos
da Escola Princesa Isabel de Novo Planalto pelo carinho: Luciana, Franciely,
Graciane, Nilson, Elza, Silézio, Célio, Marilza (mãe da Rafaely), Prof. Marilza
Marques, ...
Nos despedimos e seguimos sentido BR 429; chegamos ao
asfalto, rodamos mais 40 km e pegamos a esquerda sentido Porto Murtinho por
estrada de terra com muita poeira, onde estamos agora; conhecendo a Festa do
Divino. Chegamos direto na beira do Rio São Miguel, onde esta ancorado o
pequeno barco do Divino; posicionamos as motos em frente ao barco, um pouco
receosos, pois vimos muitas pessoas com vestimentas diferentes, coloridas, como
que cuidando do barco. Ao lado um senhor cantava e tocava samba e pagode com
seu cavaco embaixo da antiga mangueira, sendo aplaudido pelos expectadores toda
vez que acabava uma música. Fizemos algumas fotos e enquanto ainda estávamos
ali conversando com o Carlos, repórter de Rolim de Moura, do site A FOTO RM ; ouvimos um grito de advertência:
Senhora por favor desça, desça!! Olhamos para o lado, para o barco e notamos
que havia uma mulher em cima do barco, posando para fotos. A mulher assustada
disse para o senhor que se aproximava rapidamente com vestimenta vermelha e
branca e um tipo de quepe na cabeça escrito “Divino Espírito Santo”; O que eu
fiz senhor? Ele respondeu nervoso, mas tentando disfarçar: Em 122 anos de Festa
do Divino a senhora é a terceira mulher a pisar no barco; não pode, não pode!!!
É claro que nós ficamos meio assustados com aquela situação, e percebemos que
estávamos diante de um “lugar” muito sagrado; portanto deveríamos usar o bom
senso e pensar, perguntar... antes de
fazer qualquer coisa. O barco do Divino é que conduz a “Coroa” por 40 dias pelo
Rio Guaporé e afluentes se for o caso; sua tripulação é composta somente por
homens, sendo vedada a participação de mulheres nessa tarefa. O barco pelo que
percebi, poderia ser comparado a Arca da Aliança do antigo Testamento da
Bíblia. É lugar sagrado, imaculado... apenas para fotos, qualquer homem pode
subir no barco; as mulheres podem apenas tocar no barco se assim desejar.
Saindo dali montamos acampamento no quintal da casa do
Miguel, morador antigo da vila. Estamos acompanhando as festividades e as
atividades, que são muito interessantes. Essa manifestação de fé e cultura, já
existe há 122 anos aqui no Vale do Guaporé; e é a única Festa do Divino fluvial
de todo o mundo. As cantigas entoadas durante os deslocamentos de casa em casa
são de tirar o fôlego... senti saudades das vezes que meu finado pai cantava
enquanto capinava o cafezal.
Porto Murtinho é uma comunidade quilombola, bem pequena,
portanto não existe hotel aqui; todos que estão aqui; estão nos barcos
ancorados aqui na beira do Rio São Miguel, nas casas dos moradores, e em
barracas que é o nosso caso. A pequena vila está cheia de gente; em sua maioria
pessoas de comunidades quilombolas entre Pimenteiras D’Oeste e Guajará Mirim;
brasileiras e também bolivianas. São
poucas as pessoas de fora, tipo turistas que vi aqui. Aqui todas as refeições
são gratuitas, por conta dos festeiros. Existem 03 galpões, e você escolhe onde
comer. Comida muito boa por sinal. Nessa festa serão consumidos 20 bois e mais
algumas galinhas, peixes, porcos, carneiros...
Agora a noite teve a missa campal e depois os festeiros
foram para o forró. Esta
sendo uma experiência incrível; recomendo a todos conhecer essa festa
tradicional aqui do Estado de Rondônia.
Total do
dia: 276 km.
Entre Rolim de Moura e
Porto Murtinho, segundo a rota da Expedição Rondon, 3ª Etapa.
Fabiano se deslocando para São Miguel do Guaporé, bem cedo
Eu e a Sarita dando a boas vindas ao Sol
Santana do Guaporé, distrito de São Miguel do Guaporé
Ruas de São Miguel
Prefeitura de São Miguel do Guaporé
Encontro com o Fabiano em S. Miguel
Fabiano Silva, esse será meu companheiro nessa etapa
Chegando a Bom Sucesso
Bom Sucesso, distrito de Seringueiras
Antena da Rolim Net, provedor de internet
Batendo um papo antes mesmo de descer da moto, kkkkkkk
Nós seguimos por essa Linha 104 para irmos para a próxima vila
Fazendo os registros para vocês
Jefferson Pereira em sua oficina de motos; a Motos Vieira
Seguindo para Novo Planalto
Região de muitas fazendas de gado
Cowboy na lida
Rio Bananeiras
Titia e Vovózona
Conferindo os mapas
Região com muitas lavouras de Urucum (coloral)
Novo Planalto, distrito de Seringueiras
Máquina de beneficiamento de café
Tesouro de Rondônia
Grande parte do Estado de Rondônia produz café
Almoçando
Rafaely de 09 anos; ela nos disse que são as primeiras motos de maior porte que ela viu por aqui
Sr. Odair pai da Rafaely e dono da oficina de motos Planalto Motos
Escola da vila
Prof. Célio e o Monitor de pátio Silézio nos recebendo
Prof. Célio
Fabiano contando um pouco de que estamos fazendo para a moçada
Conversando um pouco com a garotada
Foi uma experiência maravilhosa
Como eles gostaram... das histórias, das aventuras
Conhecendo as motos
Todos querendo ver as fotos
Profª Marilza Marques
Êta galerinha animada... um dia volto aí ver vocês!
Funcionários da escola num bate papo descontraído conosco durante o cafezinho
BR-429
Conferindo os dados no computador de bordo, kkkkkkkkkkkk
Entrada para Porto Murtinho, BR-429
Pequena vila entre a BR-429 e Porto Murtinho; ainda sem nome
Essa região é uma das maiores produtoras de inhame do Brasil
Barco do Divino se deslocando pelo rio. Foto do ano anterior.
Chegada do Barco do Divino a Porto Murtinho, dia 11 de maio de 2016. Imagens do site A FOTO RM
Os fiéis recebem o Divino dentro d'água; grande demonstração de fé e devoção.
Remeiros do Divino fazendo bonito na chegada.
Leia esse texto para você entender melhor como funciona esse grandioso evento:
Festa do Divino do
Espirito Santo do Vale do Guaporé.
O Imperador e a Imperatriz da festa em Pimenteiras presidem
o início da Festa do Divino.
A 122ª edição da Festa do Senhor do Divino Espírito Santo
começa no domingo de Páscoa, com a saída da Igarité do Divino, com seus
remeiros, cantores, mestres e guardiões dos símbolos, que parte da localidade
de Pimenteiras, no Rio Guaporé e visitam perto de 50 comunidades até chegar na
quarta-feira anterior ao domingo de Pentecostes à cidade de onde se dará o
encerramento, neste ano Porto Murtinho.
A Festa do Divino Espírito Santo no Rio Guaporé é o segundo
festejo religioso mais antigo da Amazônia, superado apenas pelo Círio de
Nazaré, em Belém do Pará. Ao contrário de similares que acontecem em vários
estados brasileiros, no Guaporé não existe cavalhada ou luta entre “mouros” e
“cristãos”, sendo o deslocamento feito todo por via fluvial.
Trazida da região de Cuiabá em 1894, a Festa do Divino visita
as comunidades brasileiras e bolivianas ao longo dos vale do Guaporé. Na década
de 1930 as celebrações foram normatizadas pelo Bispo Dom Francisco Xavier Rey
"Dom Rey".
As sedes são sempre escolhidas no ano anterior quando também
são sorteados, dentre os membros da Irmandade as principais autoridades da
próxima Festa, o imperador, a imperatriz e outros componentes da coordenação.
Com ritos próprios e ritmos específicos, as celebrações atraem milhares de
pessoas, especialmente na sede do encerramento.
O Barco do Divino leva dentro a Arca contendo a Coroa, a
Bandeira, o Cetro as Toalhas do altar e os livros de Ata. Após o encarregado da
Coroa receber a arca, o Barco do Divino inicia sua peregrinação ao longo do rio
Guaporé, por quarenta dias, até o final da Festa, colhendo óbolos (esmolas)
entre os ribeirinhos, o final da festa dá-se no dia de Pentecostes.
Ao aproximar-se de cada povoação, o Barco do Divino anuncia
a sua chegada através da ronqueira (artefato confeccionado em madeira com um
cano de ferro por onde é introduzido a pólvora), três buzinadas em chifres de
bois, e mais próximos, os remeiros entoam cânticos de chegada e fazem a
"meia Lua", em frente ao porto, que consiste em três voltas
circulares com, o barco, antes de aportar. As remadas são cadenciadas e os
remeiros espargem água para o alto entre uma remada e outra. O cacheiro inicia
o toque do tarol.
Fonte: divinodoguapore.blogspot.com.br
Local: Porto Murtinho - São Francisco do Guaporé-Rondônia-Brasil.
Data: 11 a 15/05/2016
Barco do Divino ancorado na margem do Rio São Miguel em Porto Murtinho; dia 13/05/2016
Festa do Divino Espírito Santo do Guaporé; 122 anos de tradição e fé
Rio São Miguel
Procissão do Divino, de casa em casa
Bandeira do Divino
Fé
Durante os deslocamentos, um grupo vai cantando; com 1ª, 2ª e 3ª voz, segundo o Fabiano; é lindo demais.
Nossa área de camping
Jantar
Missa campal
Linda manifestação de fé e alegria; mesmo estando ligada a uma religião específica; o lado da tradição, da fé, da alegria com que é realizada essa festa; agrada qualquer pessoa que valoriza as diferentes culturas mundo afora, como eu. Principalmente por ser aqui de nosso Estado de Rondônia, e estar se mantendo viva por mais de 122 anos. Devemos valorizar nossa cultura, valorizar o que é nosso.
Parabéns Andarilho, este trabalho de divulgar o nosso Estado de Rondônia é muito lindo! Nossa cultura é muito rica e merece destaque por parte de todos... parabéns novamente e continue o excelente trabalho!
ResponderExcluirCom certeza irmão; mostrar o que temos de melhor que é nossa gente e nossa terra, seus costumes e tradições... Obrigado pela companhia irmão; espero que você continue comigo nesse projeto. Abço.
ExcluirPai o senhor tem me inspirado a cada vez q entro aqui, sinto orgulho de saber que daqui alguns anos vamos poder entrar aqui e relembrar tudo o que o senhor já fez, mesmo que n ande de moto mais a cada vez que entrarmos aqui vamos viajar no tempo.
ResponderExcluirObrigado meu filho pelas palavras. Daqui a poucos anos estaremos rodando juntos cada um em sua moto. E quando o meu tempo de parar chegar, com certeza viajaremos no tempo juntos, revendo as aventuras de outrora... Bjo meu filho; te amo!
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