Depois de quase 10 anos encontrei meu caderninho com nosso
diário de bordo e então estou postando...
Acordei às 04:15 h da manhã, pensando ser 05:15 h, pois eu
não havia mudado a hora em meu relógio. Depois disso não consegui mais dormir;
então fui fazer uma limpeza na bagagem totalmente empoeirada. Depois que o
Roberto levantou, carregamos as motos; tiramos algumas fotos com o Jaime,
recepcionista do hotel e fomos procurar um local para tomar um café da manhã,
já que nesse hotel não servem café da manhã. Procuramos um pouco até encontrar
um local, onde dentro de uma vitrine havia alguns pães de hambúrguer com
presunto e queijo; pedimos um para cada. Pedimos também que nos servissem um
café para cada um. A senhora esquentou uma água, encheu dois copos e nos deu; o
café fica em uma pequena vasilha, que a gente coloca nessa água, virando uma
verdadeira água de batata. O Roberto refugou na hora, eu ainda tomei um pouco
para experimentar. Ainda ali tiramos fotos com algumas crianças e depois
pegamos a estrada para Mazuco. Muito cascalho e poeira; não adiantou nada
limpar a bagagem. Passamos por Mazuco, abastecemos as motos e seguimos rumo a
Quincemil. Mais cascalho, poeira e muitas máquinas e caminhões na estrada
trabalhando; bem complicado o trânsito em certas partes. Como não havíamos
almoçado, paramos em uma casa, uma espécie de tenda; procuramos por uma bolacha
com refrigerante; mas a senhora não tinha bolacha ou algo assim. Enquanto ela pegava o
refrigerante; um porco branco grande queria derrubar a moto do Roberto; na
verdade ele estava se coçando. Enfim a senhora encontrou o refrigerante; mas
dispensamos, pois era quente. Quando já íamos saindo, uma cena me fez descer da
moto e fazer uma foto; em pleno Peru, um peru fazia amor com sua perua.
Registrei o momento e ele continuou o que estava fazendo, tranquilo.
Continuamos rumo a Quincemil; depois de Mazuco já começa a cordilheira. Então
já estávamos subindo, descendo, passando por penhascos. Essa parte da
cordilheira é coberta por floresta amazônica ainda. Para nossa surpresa,
alcançamos um padre de São Paulo, também indo na mesma direção, de bicicleta.
Ele havia saído de São Paulo, cruzando Rondônia; disse ter logicamente ter
passado por Cacoal, Ji-Paraná... Com o objetivo de chegar ao México.
Descobrimos que sempre tem um mais doido que a gente. Tiramos algumas fotos,
ele também tiro fotos com a gente, e seguimos. Chegamos em Quincemil; vila
muito pequena; nos informamos sobre a distância para Marcapata; mas no Peru,
pelo menos nessa região, as pessoas não informam distância em quilômetros, e
sim em horas. Uns diziam que seriam 2 h, outros 3 h, e outros ainda 4 h.
Resolvemos seguir, pois daria tempo de chegar a Marcapata ainda de dia. Mas
conforme foi subindo, em meio aquela poeira, e a velocidade muito baixa por
conta da estrada; chegou num ponto em que minha moto começou a falhar; andava
muito devagar; já era noite e nós ainda bem distante de Marcapata. Chegou um
momento em que a moto não andava mais; somente dava uns trancos e ia se
deslocando muito lentamente; a moto do Roberto já sentia bem a altitude também,
mas ainda andava. Nessa hora o frio já era muito; então chegamos numa casa para
saber a distância; para nossa alegria eles serviam comida para os caminhoneiros
e também nos arrumaram hospedagem. Era dois quartinhos de madeira, em cima tipo
sobrado; para chegar até eles passávamos por dentro do quarto do pai da dona da
casa, senhor já de idade; e aí o frio chegou com força. Perguntamos para nosso
anfitrião, que eu e o Roberto o chamamos de “Claro”, pois ele repetia muito a
palavra “claro”; onde tomaríamos banho; ele nos indicou uma bica d’água que
vinha direto da cordilheira; imagina a temperatura da água. Dormimos sem tomar
banho. Para comer nos serviram uma sopa de macarrão com ovo, quentinha. Quando
eu já estava quase cheio, chegou o jantar: arroz, salada, ovo frito e um pedaço
de frango. A sopa era só a entrada; para dar uma preparada no estômago; mas a
gente não sabia, e como estávamos com fome, mandamos ver. Depois do jantar o
Roberto tomou duas Cusqueñas, e eu tomei uma Inka Cola; tanto a cerveja, quanto
o refrigerante nos foram servidos direto da prateleira, e estavam bem frios. Ali
não havia energia. Dividimos o jantar e as bebidas com um casal de
caminhoneiros que pararam ali para jantar. Eles tinham um macaco domesticado,
que foi a festa para todos; principalmente para as crianças, as filhas do casal
que nos receberam. Depois de colocar as botas no rabo do fogão (parte mais
baixa do fogão, onde se põe a lenha) a lenha da dona da casa para secar;
subimos para os quartos. As botas estavam bem molhadas, pois não havia pontes
em todos os rios; nos mais pequenos tínhamos que passar por dentro d’água
mesmo; como havia muitas pedras grandes e redondas submersas; não tinha outro
jeito senão enfiar os pés na água para firmar a moto, e não cair dentro da água
com toda a bagagem. Então subimos para nossos quartos. Luz só de lamparina. O
quarto do Roberto era parede e meia com o meu. O Roberto dormiu dentro do saco
de dormir dele; eu usei os cobertores oferecidos pelos donos da casa. Quando chegamos,
eu notei que havia um penico embaixo da cama do meu quarto; bem encardido por
sinal. Então o empurrei com o pé bem para debaixo da cama, com certo nojo. Mas
quando deu a madrugada, acordei com a bexiga muito cheia; o frio era intenso;
descer não era uma opção, pois eu teria que passar dentro do quarto do senhor,
e eu não queria incomodar. Então me lembrei do penico; tive que deitar
praticamente no assoalho de tábuas, que era o piso do quartinho, para poder
alcançar o penico encardido; e dessa vez com a mão mesmo. Viu como tudo muda
muito rápido, kkkkkkkkkkkk. Só sei que no outro dia cedo o penico estava cheio,
pois voltei até ele pelo menos mais uma vez, antes de levantarmos.
Pátio interno do Hotel Royal, muito bom para guardar as motos
Puerto Maldonado ainda bem cedo
Nos despedindo do Jaime gerente do hotel
Fazendo amigos
Mirador em Puerto Maldonado
Aguardando o café da manhã
Tuc-tuc
A senhora do café
Novas amiguinhas
Crianças, são iguais em todo lugar; gosto muito
Diminuindo um pouco a pressão dos pneus
Estrada em obras para o asfaltamento
Cascalho bravo
Estrada do Pacífico
Interoceânica
Como sempre, animais soltos
Acampamento da construtora
Santa Rosa
Curvas em "U" na terra
Poeira, muita poeira
A Serra de Santa Rosa sendo cortada
Igrejinha no alto da Serra de Santa Rosa
Garimpo
Em Mazuco com locais
Ponte sobre o Rio Iñabari
O porco, entre Mazuco e Quincemil
A tenda
O peru assanhado
Sinais da cordilheira
Um padre de São Paulo indo de bicicleta para o México
Quincemil
Nossos anfitriões nessa noite
Roberto e o macaco do casal de caminhoneiros
O senhor pai da dona da casa secando cereais
Quartinho do Roberto
Ele dormiu assim, dentro do saco
Meu cantinho nessa noite
O penico que salvou a pátria
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