Depois de quase 10 anos encontrei meu caderninho com nosso
diário de bordo e então estou postando...
Nosso hotel em Monteiro não servia café da manhã. Então
arrumamos as bagagens e seguimos; mas para encurtar caminho e não ter que
passar em Santa Cruz; pegamos um atalho por uma estrada de terra para
economizarmos 65 km. Partimos ainda no asfalto nessa região canavieira da
Bolívia. Depois de pouco rodar chegamos em uma cancela; o Roberto parou a
frente e eu mais atrás; fiquei observando a abordagem do policial, que não
pediu nenhum documento; então depois de uma pouca conversa entre eles, o
Roberto apontou para mim, e ele veio até mim; na hora eu já sabia que ali
estava nossa 1ª e única propina de toda a viagem; pois o dinheiro trocado,
especialmente guardado para as possíveis propinas estava em um dos bolsos
externos da minha calça. Dei 10 bolivianos ao policial, que prontamente baixou
a grossa corrente com tiras vermelhas penduradas para melhor visualização;
então seguimos e depois de um trecho o asfalto acabou. Seguimos por essa
estrada de terra com alguns trechos bem ruins, até a beira de um rio bem largo,
com muitas balsas de madeira muito pequenas que mal cabiam uma moto. Quando
chegamos, eu desci o barranco com a moto e então vieram mais de dez homens
correndo em minha direção com facões e alguns pedaços de pau tipo varotes na
mão; corriam e gritavam alguma coisa... foi um cagaço daqueles; eu não tinha
como voltar rápido, pois era um barranco de areia; então eu gritava para o
Roberto: vai, vai, corre! Kkkkkkkkkkkk... sei lá porque, acho que era pelo
menos para ter certeza que alguém avisaria a viúva do ocorrido, kkkkkkkkkk (É fácil rir agora... mas na hora foi tenso).
Então rapidamente fui cercado por eles... sujos, gritando... discutiam entre
eles... loucura; até nós entendermos que eles todos ali eram donos de balsas
disputando os clientes, foi uma eternidade... que na verdade deve ter durado
segundos kkkkkkkkk Numa hora dessas a gente não pensa direito; mas eu pensava
se tratar de um assalto, roubo, ou que estávamos numa área proibida; foi um
susto muito grande. Depois do susto, mesmo com o coração ainda disparado,
escolhemos nossa balsa. Como todas eram pequenas e não teríamos como virar as
motos dentro para sair; nem pensamos e por conta do susto, erradamente também
não perguntamos o preço; escolhemos logo a balsa grande; que depois descobrimos
era para atravessar caminhões. Isso nos custou 200 bolivianos; com essa quantia
compraríamos 200 litros de gasolina; fizemos isso para economizarmos 65 km de
asfalto. Definitivamente atalhos não valem a pena!
Depois de mais terra do outro lado do rio do “desespero”,
chegamos novamente ao asfalto; mas aí já não tinha mais jeito... as cuecas já
estavam borradas e com 200 bolivianos a menos no bolso, kkkkkkkkkk...
Seguindo pelo asfalto, chegamos num restaurante de beira de
estrada e então almoçamos ali. Depois do almoço seguimos pelo asfalto e logo
mais adiante terra de novo; mas dessa vez seguiríamos por terra por mais de 400
km até a fronteira com o Brasil, em San Matias. Nesse meio o pneu dianteiro de
minha moto furou; então paramos num lugar bonito, tipo uma pousada para na
sombra trocar a câmara de ar. O Roberto fez todo o serviço e então seguimos
pela estrada de terra; muito cascalho, areia e poeira. Chegamos à noite em San
Ignácio, cheios de poeira e muito cansados. Ficamos num hotel muito bom,
ambiente agradável, ar condicionado, garagem fechada... O interessante é que
até Cochabamba, as noites eram frias; descer a cordilheira, no caso de Montero,
já tivemos que usar o ar condicionado em vez do aquecedor; incrível a diferença
de tudo em um dia bem andado de moto. Na ida também aconteceu o mesmo, de
Puerto Maldonado até o trecho em que estávamos às 16:00 hs da tarde, muito sol
e calor; +- 35°C; no mesmo dia à noite, já próximo dos 3.000 m.s.n.m. antes de
Marcapata 25 kms, onde dormimos, durante a madrugada chegou a +- 5°C; diferença
incrível de 30°C nas mesmas 24 horas. Por isso e muito mais digo: vale muito a
pena se mexer, conhecer o mundo, viver a vida. O Peru e a Bolívia são tão
perto, tão baratos; e não têm os perigos que muitas pessoas falam. Se você se
mantiver nas vias principais e não sair do centro das cidades sem uma pessoa
que conheça o lugar; um exemplo disso foi o nosso atalho; baita susto e muito
dinheiro jogado fora.
Voltando à sequência da viagem... no hotel em San Ignácio...
tomamos um bom banho, trocamos a roupa, limpamos mais ou menos as jaquetas, e
tivemos que colocar as botas do Roberto no banheiro, por conta de um chulézinho
básico, kkkkkkkkkkkk; e então saímos para jantar. Encontramos um espetinho de
um brasileiro, e então conseguimos comer uma comida brasileira mesmo ainda
estando dentro da Bolívia. Passamos numa Lan House, deixamos recado para a
família, e fomos dormir.
Estradas de terra na Bolívia
Região canavieira próximo a Santa Cruz
Estrada de terra sentido Okinawa; já no atalho
O atalho
Rio Grande (o rio do desespero)
Foto do google maps; por coincidência tirada um mês antes da nossa passagem pelo mesmo local, pelo meu amigo finado Dr. Joaquim
Balsa
Rio largo e raso
Fazendo pose, todo borrado kkkkkkkkk
A balsa sendo puxada por pessoas dentro d'água
Alegrin por não ter morrido kkkkkkkk
Restaurante
A entrada
O almoço
Lavoura de girassol, muito bonito
Sarita com pneu furado
Roberto fazendo a troca da câmara de ar
O hermano que nos ajudou a resolver o problema
Estradão
Hotel em San Ignácio
Hotel muito agradável e bonito
Aqui dá até para relaxar um pouco
Muita poeira
É nóis mano
Depois de tudo umas boas risadas vai bem..kkkkkkkkk..
ResponderExcluirMuito show reler suas historias irmão e conhecer um pouco mais das estradas por meio dos seus relatos e fotos. moto abç.